
Identificação da variante monofásica de Salmonella typhimurium
Alguns sorotipos de Salmonella representam preocupação significativa por sua importância zoonótica na avicultura industrial. Entre eles, Enteritidis e Typhimurium destacam-se por estarem associados a surtos alimentares em humanos, transmitidos pelo consumo de carne de aves ou ovos contaminados. No Brasil, a legislação estabelece regras claras para o monitoramento desses agentes. A Instrução Normativa nº 20, de 21 de outubro de 2016 (1), determina que os testes laboratoriais considerem não apenas a presença de Salmonella spp., mas também identifiquem o sorotipo, incluindo S. Enteritidis, S. Gallinarum, S. Pullorum, S. Typhimurium e suas variantes monofásicas S. 1,4[5],12:-:1,2 e S. 1,4[5],12:i:-.
Do ponto de vista epidemiológico, a variante monofásica S. 1,4[5],12:i:- tem chamado mais atenção nos últimos anos por estar entre os cinco sorotipos mais isolados em casos de salmonelose humana, sendo associado a surtos de maior impacto, à resistência antimicrobiana e à elevada capacidade de disseminação (2). Essas características reforçam o rigor nos programas de monitoramento e em medidas de biosseguridade, em conformidade com a IN 20/2016 e demais regulamentações aplicáveis.
Diferença entre a forma clássica e a monofásica
Entre os fatores que contribuem para o sucesso adaptativo de Salmonella Typhimurium está a sua capacidade de expressar dois tipos distintos de flagelos. Estruturas filamentosas e cilíndricas, semelhantes a “chicotes”, são formadas principalmente por proteínas flagelina e conferem mobilidade à bactéria, favorecendo sua colonização em diferentes ambientes. Mudanças na expressão da flagelina determinam o fenômeno conhecido como variação de fase flagelar. A alternância entre fases acontece por um intrincado mecanismo genético envolvendo o operon fljBA e o gene fliC, que permitem que a bactéria alterne a expressão entre duas flagelinas distintas, uma estratégia que resulta na evasão ao sistema imune do hospedeiro, ampliando a capacidade de adaptação da bactéria em diferentes ambientes.
A variação de fase flagelar influencia diretamente na fórmula antigênica de Salmonella no esquema de White-Kaufmann-Le Minor (3), que utiliza anticorpos específicos para identificar os antígenos de parede celular (O) e os flagelares das fases 1 e 2 (H). A combinação desses marcadores, descrita como O:H1:H2, define a fórmula antigênica. E cada perfil distinto corresponde a um sorovar (ou sorotipo).
No caso de S. Typhimurium:
Forma clássica (bifásica): apresenta duas fases do antígeno flagelar H, com fórmula antigênica S. 1,4,[5],12:i:1,2.
Variante monofásica: expressa apenas uma fase do antígeno.
Mais comum: ausência da segunda fase (gene fljB), fórmula S. 1,4,[5],12:i:-.
Menos comum: ausência da primeira fase, fórmula S. 1,4,[5],12:-:1,2.
Embora métodos sorológicos sejam úteis na classificação, apresentam limitações na diferenciação entre variantes. A qPCR surge como ferramenta rápida e precisa para a detecção de S. Typhimurium, permitindo distingui-la de outros sorotipos de Salmonella.
Os kits NewGene STAmp, SETAmp e SETHAmp ganham destaque por identificarem tanto a forma bifásica quanto as monofásicas de S. Typhimurium, em conformidade com as exigências da IN 20. Combinando alta sensibilidade, especificidade e rapidez, eles oferecem resultados confiáveis e práticos, tornando-se ferramentas valiosas para programas de monitoramento, biosseguridade e controle sanitário em avicultura industrial.
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