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Bactérias do gênero Edwardsiella estão distribuídas globalmente causando doenças gastroentéricas e septicêmicas em humanos, mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Até 2013, o gênero consistia apenas nas espécies E. tarda, E. ictaluri e E. hoshinae. E. tarda é agente causador da Edwardsielose, conforme reportado em mais de 25 espécies de peixes, em todos os continentes. Esta espécie foi também isolada de répteis, pássaros e mamíferos, com potencial zoonótico moderado e é provavelmente um patógeno oportunista em indivíduos jovens, idosos e imunocomprometidos. Apesar de sua ampla gama de hospedeiros, E. tarda tem sido principalmente implicada em surtos em peixes cultivados, sendo considerado um dos patógenos bacterianos mais importantes na aquicultura global.
E. tarda tem sido submetida a estudos filogenômicos, que apoiados por investigações utilizando análise de sequência multilocus (MLST) de isolados na Ásia e Europa, e com análises genotípicas e fenotípicas nos Estados Unidos, apontam que isolados historicamente classificados como E. tarda na verdade compreendem três espécies geneticamente distintas, mas fenotipicamente indistinguíveis com as técnicas microbiológicas convencionais. E caracterização fenotípica adicional, com hibridização DNA-DNA e análises filogenéticas, levaram à indicação de E. piscicida como um quarto membro do gênero, em 2013. Expandindo essas análises, a caracterização fenotípica e genômica polifásica de isolados de enguias doentes e outros peixes levou à adição de uma quinta espécie, a E. anguillarum, em 2015. Desta forma, o gênero Edwardisiella é atualmente composto pelas espécies:
E. hoshinae - pouco estudada, comensal em aves e répteis;
E. ictaluri - de grande importância econômica, relacionada com septicemia entérica principalmente na criação de bagre (catfish - Ictalurus punctatus) nos Estados Unidos da América;
E. tarda - patogênica oportunista e zoonótico, que afeta vários hospedeiros como aves, anfíbios, suínos, humanos, peixes etc.
E. piscicida - patógeno de importância em várias espécies de peixes, até recentemente era classificado como E. tarda típico;
E. anguillarum - patogênica de importância em várias espécies de peixes, até recentemente classificado como E. tarda atípico.
A Edwardsielose em peixes geralmente ocorre sob condições ambientais desequilibradas, como alta temperatura da água, má qualidade da água e alto teor orgânico. Peixes infectados apresentam comportamento anormal de natação, incluindo movimento em espiral e flutuação perto da superfície da água. Embora os sinais clínicos variem após o início, os peixes infectados apresentam perda de pigmentação, exoftalmia, opacidade dos olhos, inchaço da superfície abdominal, hemorragia petequial na barbatana e na pele e hérnia retal. Internamente, ascite aquosa e sanguinolenta no espaço abdominal e fígado, baço e rim congestionados são encontrados. As características histopatológicas da edwardsielose são nefrite intersticial supurativa, hepatite supurativa e inflamação purulenta no baço. Abscessos de vários tamanhos, colonização bacteriana e infiltração de neutrófilos e macrófagos são encontrados no fígado, baço e rim. Algumas características patológicas notáveis também foram demonstradas em peixes, como 1) hemorragia petequial dorsolateral e abscessos em lesões cutâneas em bagres; 2) hiperplasia, necrose e inflamação nos canais da linha lateral do robalo; 3) necrose e agregação de macrófagos carregados de bactérias no pargo japonês. No entanto, os sintomas e alterações patológicas em peixes são semelhantes aos de outras infecções bacterianas, incluindo Aeromonas hydrophila, Vibrio anguillarum e Pseudomonas anguilliseptica.
O diagnóstico é baseado no isolamento bacteriano e características bioquímicas. Em vários estudos, foram também descritas técnicas sorológicas, incluindo testes de aglutinação, ensaios imunoenzimáticos (ELISA) e técnicas de anticorpos fluorescentes. Recentemente, surgiram os métodos baseados em PCR, com relatos diagnósticos precisos e sensíveis.
Atualmente, as espécies mais relacionadas com a doença na piscicultura mundial são a E. piscicida e E. anguillarum.
Flavobacterium columnare é bactéria oportunista, presente nos tecidos e ovos de peixes e de outros animais aquáticos, e na água. É responsável por perdas econômicas no setor aquícola, acometendo tanto peixes de produção, quanto selvagens, principalmente nas formas jovens. Surtos costumam ocorrer mediante estresses, muitas vezes causados pela elevada densidade populacional, baixa qualidade de água, excesso de matéria orgânica ou por escoriações na superfície corporal dos peixes, elementos comuns e associados em piscicultura. A bactéria se alimenta de células epiteliais, causando manchas acinzentadas e necrose na pele dos animais e, nas brânquias, provoca hiperplasia, congestão e necrose, causando asfixia.
A manifestação clínica da doença colunar depende da virulência da cepa e da idade dos peixes: em animais jovens, a doença se desenvolve de forma aguda e atinge principalmente as brânquias. Em adultos, a doença pode adotar curso agudo, subagudo ou crônico. Quando é agudo ou subagudo em peixes adultos, áreas amareladas de tecido necrótico podem aparecer nas brânquias, resultando em sua destruição completa. As lesões se iniciam com áreas de descoloração pálida circunscrita por uma região avermelhada. Outros sinais clínicos são letargia, inapetência, natação errática e movimentos operculares acelerados.
Grande variação genética é reconhecida entre isolados de F. columnare e análises filogenéticas definem quatro grupos distintos, que diferem não apenas no nível genômico, mas também nas associações de hospedeiros, casos dos isolados do grupo 1, predominantemente associados a doenças em salmonídeos e do grupo 4, tilápias (Oreochromis spp.). Historicamente, os grupos genéticos 1, 2 e 3 foram associados a casos de doenças colunares na indústria do bagre.
O diagnóstico presuntivo da doença se dá através dos achados clínicos e a partir do isolamento bacteriano em raspados das lesões. Para a detecção do patógeno, ELISA, imunofluorescência e PCR também são adotadas, com a vantagem da última detectar níveis muito baixos de F. columnare, além de permitir a quantificação em tecidos (sangue, brânquias e rim), com a qPCR.
Francisella orientalis é cocobacilo não móvel, Gram-negativo, estritamente aeróbico. Até recentemente, eram duas subespécies - F. noatunensis subsp. noatunensis e F. noatunensis subsp. orientalis, relacionadas com patologias em bacalhau do Atlântico e em tilápias, respectivamente. No entanto, baseando-se em diferenças significativas na análise de genomas, houve a reclassificação com as espécies distintas: Francisella noatunensis e Francisella orientalis.
A franciselose é enfermidade que acomete peixes, manifestando-se com infecções sistêmicas, crônicas e granulomatosas. É descrita em várias espécies de importância econômica, como bacalhau do Atlântico (Gadus morhua), salmão (Salmo salar), tilápia (Oreochromis sp.) e robalo híbrido (Morone chrysops × M. saxatilis) etc., com baixa mortalidade neste último, atingindo 5-20% em salmão do Atlântico e alcançando até 95% em tilápia. Nestes casos, uma extensa ocorrência de nódulos brancos, parcialmente salientes (granuloma) de vários tamanhos no baço, rim e fígado, pode ser vista também em brânquias, coração, testículos, musculatura, cérebro, olho etc. Embora mortalidades elevadas sejam descritas, são raramente encontradas no campo. As condições ambientais, em particular a temperatura, parecem desempenhar papel significativo na taxa de mortalidade, além da presença de infecções mistas com bactérias patogênicas. No Brasil, o primeiro relato da ocorrência de franciselose foi descrito em tilápia coletada em Minas Gerais, com mortalidade de alevinos e juvenis com sinais clínicos de doença granulomatosa. Atualmente a doença é endêmica nos principais polos de criação de tilápia no Brasil, causando doença sazonal na bacia do rio São Francisco, em vários Estados do Nordeste brasileiro, mas também no Centro-Sul do Brasil, em condições de causar maiores perdas pelas condições climáticas que favorecem a manutenção da doença por um longo período do ano.
O diagnóstico clínico presuntivo para franciselose é realizado a campo, a partir da visualização dos principais sinais clínicos, tais como queda acentuada no apetite durante períodos de inverno, associada à redução no crescimento dos animais e, principalmente, pela visualização de granulomas nos órgãos nos peixes moribundos, especialmente do grupo de risco (alevinos e juvenis). A confirmação da suspeita clínica é realizada a partir de exames laboratoriais, utilizando técnicas específicas para isolamento e identificação de Francisella orientalis, ou a partir da combinação de ferramentas moleculares, como a reação por PCR, principais métodos para diagnóstico definitivo da doença.
Vale destacar que a Edwardsielose (outra doença emergente no Brasil) tem sido facilmente confundida com a franciselose, por causar quadro granulomatoso em formas jovens de tilápia, não permitindo distinguir as enfermidades pelo aspecto clínico. A diagnóstico definitivo, por meio de uma completa análise laboratorial, torna-se portanto imprescindível para correta definição da doença. Sobre o controle realizado com antibióticos, vale destacar que uma vez que a doença se estabeleça, sua ocorrência tenderá a ser anual, e de difícil erradicação. Atualmente, a melhor estratégia para prevenção são as vacinas. No Brasil, ainda não estão disponíveis vacinas licenciadas contra a franciselose e, consequentemente, o uso de vacinas autógenas tem ganhado mercado no controle da doença pelos tilapicultores.
Bactérias do gênero Streptococcus geram doenças em peixes denominadas Estreptococose. São bactérias Gram-positivas, com 0,5-2,0 μm de diâmetro, organizadas em pares ou cadeias lineares curtas, catalase negativos, não móveis e não formadores de esporos. Além destas características fenotípicas, o tipo de hemólise e a sorotipagem baseada na antigenicidade de polissacarídeos capsulares (20 grupos, denominados Grupos de Lancefield) têm sido empregadas para caracterizar as diferentes espécies de Streptococcus, das quais seis têm sido descritas como os agentes etiológicos causadores de septicemia e meningoencefalite em peixes: S. agalactiae (Grupo B), S. iniae, S. parauberis, S. dysgalactiae, S. phocae e S. ictaluri.
O Streptococcus agalactiae é patógeno emergente na aquicultura, também responsável por importantes doenças em seres humanos (pneumonia, septicemia e meningite) e bovinos (mastite). Na aquicultura é responsável por altas taxas de morbidade e mortalidade, em peixes de água doce e marinhos. No Brasil, o primeiro relato da ocorrência da doença em peixes foi no ano de 2003 e, atualmente, é uma das principais doenças de importância econômica na tilapicultura do país.
A transmissão da doença ocorre por contato direto entre peixes infectados com peixes sadios e por contato indireto, pela bactéria presente na água, permitindo que a doença se manifeste gradativamente em diferentes tanques-rede de uma mesma propriedade. O diagnóstico pode ser realizado pela associação dos sinais clínicos e com os achados laboratoriais, com técnicas convencionais, baseadas em cultivos em meios seletivos, ou por biologia molecular (PCR).
Espécies do gênero Megalocytivirus como Infectious Spleen and Kidney Necrosis Virus (ISKNV), Red Sea Bream Iridovirus (RSIV) e Turbot Reddish Body Iridovirus (TRBIV) estão associadas a surtos de alta mortalidade em peixes marinhos e de água doce. Já foram descritos surtos em mais de 50 espécies de peixes e sua presença é conhecida na China, Japão, Austrália, América do Norte e Sul, além de países africanos e do sudeste asiático. ISKNV não possui caráter zoonótico e está associado à mortalidade variável e predisposição a infecções bacterianas secundárias. A partir de 2015, foram descritos surtos de ISKNV em cultivos de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) em diversas partes do mundo. No Brasil, o primeiro surto foi descrito em 2020, com taxa de mortalidade de até 75% em alevinos e juvenis. Os principais sinais clínicos dos animais afetados pelo ISKNV são natação errática, palidez de brânquias e anorexia e as alterações internas incluem hepatomegalia e esplenomegalia. Os métodos de diagnóstico mais utilizados são as técnicas moleculares, como a PCR e suas variações para amplificação do DNA viral e posterior análise de algumas regiões específicas do gene MCP (major capsid protein).
Ainda não existe tratamento eficaz controle deste vírus, sendo recomendado que, após o diagnóstico, seja feito o descarte do lote, desinfecção do tanque (com meios físicos e químicos) e vazio sanitário, antes do repovoamento. Como são medidas drásticas, o melhor é previnir que o patógeno infecte o plantel de produção, não adquirindo animais de regiões com surtos da doença, não comprando ou transportando animais sem o laudo negativo (emitido por laboratório especializado) e desinfectando redes, utensílios, vestuário, etc. Já existem vacinas eficazes, porém são certificadas em poucos países. A vacinação tem se mostrado a melhor das estratégias de prevenção, visto que pode proteger os animais por um longo período de tempo.