Evolução e diversidade do Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas (IBV) no Brasil Simbios Biotecnologia

Evolução e diversidade do Vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas (IBV) no Brasil

A vacinação contra a Bronquite Infecciosa das Galinhas muitas vezes é necessária nas granjas avícolas, tanto pela alta prevalência do vírus (IBV) quanto pela magnitude dos problemas sanitários causados por sua presença. As primeiras cepas vacinais foram desenvolvidas na década de 1940, nos Estados Unidos, baseadas na linhagem Massachusetts, até então a única reconhecida. Através da atenuação de sua virulência por passagens em ovos embrionados, foram desenvolvidas as cepas denominadas Mass 41 e Mass H120 (em virtude do número de passagens), e que ainda hoje são muito utilizadas no controle do vírus (Ennaji, et al., 2020).

Em 1956, com o reconhecimento de uma nova cepa, denominada Connecticut (Conn), constatou-se que a imunização contra IBV era mais complexa do que se pensava, uma vez que a vacinal Mass não protegeu as aves contra o desafio de Conn, como se esperava. Com o avanço nas investigações a respeito do vírus, por um lado, foi se tornando claro que havia uma distribuição diversificada de cepas ao redor do mundo. Por outro, com estudos de proteção, definiu-se o princípio de maior eficiência com uso de vacinas homólogas diante das heterólogas, fundamentando-se o conceito da seleção de vacinas heterólogas de maior proteção relativa (protectotipos de Cook, Jackwood & Jones, 2012).

Na América do Sul, o IBV foi descrito pela primeira vez em 1957 por Hipolito, causando quadros patológicos no Brasil e motivando a introdução da vacinação. A maior parte dos isolados brasileiros até o ano de 1989 foi classificada como sorotipo Massachusetts por Mendonça et al. (2009), com Fraga et al. sugerindo, ainda em 2018, que o país abrigava a maior diversidade de representantes deste grupo, possivelmente devido à propagação viral local pelo longo histórico de vacinação.

A partir dos anos 2000, foi relatada a circulação de uma nova linhagem causadora de Bronquite em galinhas no Brasil, com a variante denominada BR-I (Chacón et al., 2011), mais tarde confirmada por estudos realizados pela Simbios Biotecnologia (Fraga et al., 2013). Logo após, estudos filodinâmicos realizados por Fraga et al. (2018) sugeriram que a vacinação heteróloga com o sorotipo Mass pode não ter sido eficaz contra as variantes de campo do IBV, resultando em significativa dispersão e manutenção desta linhagem em aviários brasileiros entre 1980 e 2014. Neste contexto, a partir de 2016 o Brasil iniciou o uso de vacina homóloga contra desafios da cepa BR, o que representou um importante avanço no controle da Bronquite por esta cepa vacinal “brasileira”.

Em abril de 2022, uma nova cepa de IBV foi descrita em lotes de produção de avicultura industrial no oeste do Paraná por pesquisadores da Simbios (Ikuta et al., 2022), altamente assemelhada à Var2 (mais corretamente referida como Linhagem GI-23 - veja BOX). 

As tentativas iniciais de controle se deram pela adoção de manejos sanitários mais rigorosos (maior biosseguridade), acompanhadas pela intensificação nos protocolos de vacinais heterólogas  (Ikuta et al., 2023). E, mais recentemente, também foi lançada a vacina homóloga GI-23, resultando numa condição sui generis em termos mundiais - hoje, no Brasil, dispomos de soluções homólogas para as três linhagens que ocorrem como desafios de campo: GI-1 (Mass), GI-11 (BR) e GI-23 (Var2).


FIGURA 1 - Distribuição da frequência de amostras IBV positivas por genotipagem nos anos de 2019 a 2023. Fonte: Simbios Biotecnologia



BOX - Valastro et al., 2016 - Moderna Classificação de Linhagens de IBV

Os autores propuseram nomenclatura internacional para estudos de epidemiologia e evolução, sugerindo a geração de novas sequências de S1 (espícula) e a revisão das anteriores, e organizaram a filogenia de S1 completo (~ 1620 bp) com base em 1286 cepas de IBV, definindo 32 linhagens em todo o mundo:

  • GI com 27 linhagens
  • GII a GVI com 1 linhagem cada

Linhagens de IBV no Brasil atual

GI-1 - Inclui o primeiro sorotipo de IBV identificado, que ainda hoje é um dos grupos genéticos mais conhecidos e amplamente distribuídos, provavelmente devido ao uso extensivo da vacina homóloga derivada de uma de suas cepas. A cepa de sorotipo Mass de campo está principalmente associada a doenças respiratórias.

GI-11 - Vírus brasileiros e amostras de campo da Argentina e do Uruguai (Marandino et al., 2015). A variante brasileira em condições experimentais causa predominantemente doenças respiratórias e renais (Chacón et al., 2014: de Wit et al., 2015).

GI-23 - Tipo selvagem, originalmente confinado ao Oriente Médio: desde 1998 em Israel e em 2009, na Jordânia e no norte do Iraque. No Egito, desde 2010, dominando entre outras cepas dois anos após. Em 2011 e 2012, na Turquia e Líbia. Após, na Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Armênia, e desde 2015 também na Rússia, Lituânia e Ucrânia. Após meados da década passada, na Polônia. Mais recentemente no Brasil, conforme descrito pela equipe da Simbios (Ikuta et al., 2022). Relacionada a doenças no sistema respiratório, danos renais e queda na produção de ovos.


Mas como devemos vacinar nossas aves? Com todas as vacinas disponíveis - Mass, BR e GI-23? 

A resposta mais curta, e aborrecida, é: depende.

Apesar do país reportar exclusivamente estas três linhagens (Figura 1), a distribuição é desigual ao longo do território. As populações virais interagem entre si de forma não apenas competitiva, mas também cooperativa. As mutações e recombinações determinarão o prevalecimento de uma cepa sobre as outras, além da origem de novas cepas.

Por esse motivo, é importante conhecer a epidemiologia do IBV em cada região, para poder alcançar protocolos vacinais precisos e eficazes, evitando excessos e falhas.

Tanto na escolha do protocolo vacinal quanto na avaliação clínica de aves vacinadas, sabe-se que a tipificação de IBV por RT-qPCR é ferramenta bastante útil. Este dado deve ser avaliado em conjunto com as demais informações clínico-epidemiológicas para a definição do protocolo de vacinação. A presença do sorotipo Massachusetts (GI-1), especialmente diante de sinais clínicos em aves, pode significar infecção por cepa Mass de campo que, por sua vez, pode ser adicionalmente investigado utilizando ferramentas moleculares acuradas, como a análise filogenética a partir do sequenciamento do gene S1.

O retrato epidemiológico da Bronquite no Brasil ilustra com requinte o desafio representado pela prevenção e combate de doenças na avicultura industrial. A impossibilidade de erradicação e a forçada convivência com o patógeno tonificam a importância de manter ativamente a vigilância epidemiológica molecular, para garantir bons resultados na indústria avícola.

Para a monitoria de IBV, a Simbios oferece métodos de tipificação pela técnica de RT-qPCR das três principais variantes circulantes no país - Massachusetts, BR e GI23 -, além de realizar análise de sequenciamento do gene S1.

E os kits NewGene dão suporte a estas rotinas acuradas no seu laboratório industrial (veja em simbios.com.br/NewGene).

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