Risco sanitário e análise molecular nas diferentes fases de cultivo em tilapicultura

O diagnóstico molecular, com seus diferenciais de sensibilidade e especificidade, é ferramenta fundamental no monitoramento de patógenos bacterianos e virais no cultivo de tilápias. Sua aplicação efetiva requer o entendimento da epidemiologia dos agentes em cada fase da produção, de modo a direcionar adequadamente as medidas de controle e biosseguridade.

Categoria da Fase Característica principal do risco Agentes mais frequentes / maior risco*
Formas jovens (alevinagem e recria) Vulnerabilidade imunológica e alta densidade populacional. Peixes com menor resistência e maior facilidade de contágio.
  • ISKNV
  • Edwardsiella anguillarum, E. piscicida, E. tarda
  • Francisella orientalis
  • Flavobacterium columnare
Fase de crescimento e engorda Estresse crônico e alta biomassa. Sobrecarga do sistema de cultivo e variações ambientais (temperatura, oxigênio).
  • Streptococcus agalactiae, S. iniae, S. dysgalactiae
  • Lactococcus petauri, L. garvieae, L. formosensis

* As doenças envolvendo estes agentes podem ocorrer em qualquer fase do ciclo produtivo. A tabela reforça apenas os períodos de maior risco. A prevalência dos patógenos depende de muitos fatores, incluindo a qualidade da água, o manejo e a eficácia das barreiras de biosseguridade.

Formas jovens (alevinagem e recria)

Esta fase representa um ponto crítico do ciclo produtivo, marcado pela baixa imunocompetência e pela alta densidade de peixes, condições que favorecem a disseminação de agentes infecciosos. O diagnóstico molecular deve priorizar a triagem de reservatórios virais e a detecção precoce de bactérias oportunistas.

  • ISKNV (Vírus da Necrose Infecciosa do Baço e do Rim): é patógeno viral de alto impacto em alevinos e juvenis, mas pode acometer todas as fases. Sua característica imunossupressora predispõe infecções secundárias. A PCR pode ser utilizada para a detecção em matrizes e o monitoramento em alevinos, sendo o método de referência para controle de biosseguridade.
  • Edwardsiella spp. (E. anguillarum, E. piscicida, E. tarda): responsáveis pela edwardsielose, essas bactérias predominam nas fases iniciais do cultivo. O diagnóstico molecular permite diferenciar espécies com precisão, etapa essencial para definição de protocolos terapêuticos e de manejo.
  • Francisella orientalis: agente da franciselose, afeta principalmente formas jovens expostas a temperaturas inferiores a 24°C, podendo estabelecer infecções crônicas. A PCR é indicada para o monitoramento de portadores subclínicos e no suporte sanitário, para programas de seleção genética voltados à resistência à doença.
  • Flavobacterium columnare: agente da columnariose, ocorre com frequência em alevinos e juvenis, especialmente sob condições de estresse térmico ou de baixa qualidade da água. O diagnóstico por PCR permite o direcionamento imediato das medidas corretivas.

Fase de crescimento e engorda

Nesta etapa, o impacto econômico das doenças é maior em razão do aumento da biomassa e do estresse crônico, associado ao manejo e às variações ambientais. O diagnóstico molecular é voltado à detecção de bactérias sistêmicas de alta letalidade:

  • Streptococose (S. agalactiae, S. iniae, S. dysgalactiae): os estreptococos são os patógenos mais importantes na engorda. S. agalactiae é o principal agente no Brasil, e o diagnóstico molecular é o método de escolha para:
    • Identificação de espécie/sorotipo: Diferenciar as espécies é importante, pois a vacinação e a epidemiologia variam. A PCR elimina a ambiguidade dos testes bioquímicos.
    • Detecção subclínica: Permite identificar peixes portadores em lotes de engorda antes do pico de mortalidade, suportando decisões sobre o timing da despesca ou intervenção.
  • Lactococose (L. petauri, L. garvieae, L. formosensis): é uma doença emergente, que se expandiu em tilapicultura, com impacto significativo na recria e na engorda. A PCR é necessária para a diferenciação dos Lactococcus spp. de outros cocos Gram-positivos, como os estreptococos, orientando o tratamento de surtos.

O diagnóstico molecular provê evidências epidemiológicas necessárias para a tomada de decisão, permitindo que técnicos e gerentes de piscicultura implementem intervenções sanitárias e de manejo baseadas em dados específicos e em tempo hábil. A Simbios Biotecnologia desenvolveu ampla linha de produtos e serviços para atender aquicultores.